Transtorno conversivo: a dor mental que se transforma em dor física

Autora

Giorgia Matos

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Nosso organismo é tão complexo que, quando não estamos bem mentalmente, essa emoção é refletida diretamente no corpo, causando uma série de doenças que originalmente não teriam razão de existir, pois não se trata de um problema orgânico, mas de algo que temos entranhado em nosso inconsciente e que está nos fazendo mal.

Ao longo da vida, é normal termos vários dissabores: passamos por situações constrangedoras, perdas afetivas, falecimento na família, demissão, presenciamos inúmeras brigas familiares, sofremos com a separação dos pais, sofremos bullying na escola, nos decepcionamos com uma traição amorosa, ou mesmo sofremos por falta de afeto na infância pelos nossos cuidadores.

Enfim, são várias as situações às quais não estamos imunes e que, mais dia menos dia, algumas dessas e tantas outras situações dolorosas batem à nossa porta.

Não temos como fugir delas: estão presentes na vida de todos e fazem parte da condição humana.

O que acontece é que nem sempre essas situações dolorosas – ou até mesmo traumáticas – passam assim, tão facilmente como gostaríamos.

Esses afetos (sentimentos ligados aos fatos) ficam guardadinhos em nosso inconsciente. Essa é a forma que o Ego encontra para não nos causar sofrimento, para abrandar a dor.

Só que por vezes essa dor escapa: sabemos que existe algo de errado mas não sabemos o quê, pelo fato de ela se encontrar em outra instância mental, no inconsciente. Longe de nossa percepção lógica.

E o que acontece é que adoecemos fisicamente. De fato, quando procuramos ajuda médica, estamos sentindo dor em determinada região. Algo realmente não está bem: dores de cabeça constantes, insônia, enjôo, dores no coração, dificuldade de respirar, visão ruim, incapacidade de falar ou andar, enfim, são vários sintomas físicos decorrentes de algum problema psicológico mal resolvido.

Geralmente a pessoa acometida por esses inconvenientes procura a emergência do hospital, com suspeita de estar sofrendo um Acidente Vascular Cerebral, um Transtorno do Pânico, uma crise de gastrite, ou qualquer outro problema orgânico.

Quando não procura a emergência, recorre a um profissional específico, dependendo do local onde se apresenta a queixa. Na maioria das vezes um neurologista, cardiologista ou psiquiatra.

Esse deslocamento da dor mental para dor física tem nome: síndrome de conversão, e é estudada e trabalhada por profissionais das áreas da saúde mental, como médicos psiquiatras, psicanalistas e psicólogos.

Transtorno Conversivo

Mecanismo que converte a dor mental em dor física

Ainda não se sabe ao certo quais os mecanismos que convertem a dor mental em dor física, mas esse transtorno está descrito no DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais) e é fruto de muito estudo, desde a época de Sigmund Freud (o pai da psicanálise).

Não é mais admissível, hoje, que nenhum médico trabalhe apenas com a hipótese de que a doença física não tenha um fator psicológico que a desencadeou. É inaceitável uma abordagem baseada somente no orgânico, sem se preocupar com o mental. Afinal, tudo está junto, interligado.

Freud foi essencial no estudo dessa problemática. Já naquele tempo, há mais de 100 anos, esse gênio do conhecimento da mente humana, observava o mecanismo psíquico da histeria (sendo que o termo histeria remonta há muito tempo, desde Hipócrates) como sendo uma doença causada por lembranças reprimidas, ou seja, de origem psíquica e que ocasiona  instabilidades emocionais, com manifestações em sintomas físicos. Atualmente a histeria é chamada de conversão.

O transtorno conversivo é caracterizado pela presença de sintomas de função motora ou sensorial alterada, onde a pessoa sente esses sintomas no corpo mas não são encontradas evidências médicas em exames.

E isso causa um prejuízo emocional bastante desgastante no paciente, porque ele afirma para o médico que está sentindo aquela dor no peito, por exemplo, e que tem certeza que há algo de errado.

Às vezes o médico cardiologista, como em nosso exemplo, orienta o paciente a procurar um psicanalista, pois alega que o problema é emocional, mas o paciente não acredita e às vezes ainda se sente incomodado e humilhado. Por vezes até duvida da capacidade do médico.

É incrível como hoje em dia ainda encontramos pessoas que não acreditam no poder que a mente inconsciente exerce sobre seu corpo e sua vida em geral. Algumas têm problemas em relacionamentos, problemas profissionais e problemas em vários aspectos de sua vida pelo simples fato de não estarem dando a atenção suficiente à sua saúde mental.

Os sintomas que se apresentam geralmente são: fraqueza ou paralisia; movimento anormal, como tremor; problemas para engolir; problemas na fala, ex: fala arrastada; convulsão; sensação de anestesia ou perda sensorial em partes do corpo; distúrbios de visão, audição ou oftalmológica.

Procurando o profissional certo

buscando a causa originária do sintoma - tratamento psicanalítico

Depois de feita a consulta com o médico, feitos os exames necessários e constatado que não há doença física, é hora de passar para os cuidados com a saúde mental.

Os sintomas têm significado simbólico. O que a pessoa sente no corpo está carimbado na alma. Elas indicam conflitos mentais não resolvidos.

É a presença dos sintomas, sem a doença orgânica comprovada.

Dizer para a pessoa que ela não tem nada e que não há doença alguma é até uma falta de humanidade, falta de empatia. Ela tem, sim, de fato: ela sente.

Afirmar que é tudo fruto da sua cabeça não vai ajudar em nada no tratamento do paciente. Vai apenas atrapalhar. Não há causa orgânica mas o sintoma existe.

Para uma pessoa que chega em um setting analítico queixando-se de dores das mais diversas, essas dores não podem ser ignoradas, pois é a partir delas que o psicanalista chega na causa do sintoma.

O psicanalista tem que, junto com o analisando (paciente), buscar a causa primária para aquele sintoma. Não deve apenas se preocupar com o sintoma em si, porque se não for trabalhada a causa, a doença volta e talvez até se manifeste em outra parte do corpo.

A busca e a resolução da causa são o que vai fazer sanar o problema de saúde de uma vez por todas, e a escuta analítica é essencial nessa caminhada.

O analisando não pode reprimir suas emoções. Nem as boas, nem as más. É essencial, para o analista, desvendar, junto ao analisando, de onde vem toda essa emoção e o que ela está causando.

Trabalhar a angústia interna. Falar, falar, falar e reelaborar os conflitos mentais inconscientes até organizar o psíquico para, por fim, ressignificar. Com isso, ocorrerá uma melhora significativa na saúde emocional e, consequentemente, em sua saúde física.

Com a conclusão do trabalho analítico, há um amadurecimento da personalidade do analisando, contribuindo para que ele tenha uma vida mais tranquila, mais consciente de suas ações e mais feliz.

A síndrome de conversão nem sempre é fácil de ser diagnosticada. Mas, depois de se constatar, através dos exames médicos, que não se trata de doença orgânica, é hora de procurar ajuda com um profissional de saúde mental que analisará o psicológico do paciente, em busca de uma resposta às questões sintomáticas.

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por

Giorgia Matos

09/10/2017

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  1. O conteúdo é bom,numa linguagem à altura de todas as pessoas e pode esclarecer dúvidas e problemas comuns a muitas pessoas,pois em geral ,nos momentos de dores,o emocional não é levado em consideração,no entanto,os sentimentos e ressentimentos definem quem somos ,o que sentimos e o que pensamos a respeito dos outros e de nós mesmos.

  2. Minha filha passou por esse transtorno. Nunca tinhamos ouvido falar. Foi um período muito difícil. Mas com a ajuda de profissionais excelentes tudo ficou bem.
    Aos pais e mães q enfrentam essa doença saibam q precisamos de ajuda para ajudar nossos filhos.

  3. Meu filho tb está passando por crises conversiva e é muito sofrido pra toda a família! Ele tem 21 anos terminou um tratamento de radioterapia e vai continuar com quimioterapia oral! Meu marido acha que tem um pouco de espiritual e quer levá-lo ao centro espirita eu por outro lado sou católica e não aceito que meu filho vá pra essa lado de outra religião! Quero ajuda!

    1. Maria Tereza, acredito que seu filho já está recebendo ajuda profissional em relação à saúde física. Recomendo que procure um psicólogo ou psicanalista em sua cidade. Irá ajudar, com certeza.

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