Síndrome de Otelo é o nome dado ao ciúme patológico.
É um ciúme exagerado, infundado e baseado em falsas evidências.
É o seu caso?
Se for, fique atenta e entenda tudo a respeito.
Otelo, O Mouro de Veneza é o nome de uma peça muito famosa de William Shakespeare em que o protagonista sofre de um ciúme exagerado e infundado em relação à sua fiel esposa.
Sim, fiel mesmo.
E é isso o que acontece entre a maioria dos casais em que um deles sofre desse ciúme doentio.
Um ciúme regado a dúvidas infundadas de traição.
Se você sofre com frequência de um ciúme exagerado, desmedido, inconsequente, irracional e intrusivo, saiba que, provavelmente, você é uma candidata a ser diagnosticada com Síndrome de Otelo.
O Ciúme em Shakespeare – Um Pouco da História
Foi por causa dessa peça de William Shakespeare que o ciúme patológico recebeu o nome de Síndrome de Otelo.
Veja um pouquinho do enredo para você entender melhor.
“O começo da peça se inicia com uma conversa entre Iago, o alferes, e Rodrigo, um cavalheiro veneziano.
Iago conta a Rodrigo seu sentimento de injustiça perante a indicação de Otelo, um general mouro negro de lábios grossos, a um importante posto almejado por Iago.
Já mostra aí grande inveja do mouro por não ser indicado ele mesmo ao posto, já que se acha merecedor do cargo.
Tenta primeiro destruir a reputação do Mouro contando a Brabâncio, um senador, que Otelo, o Mouro, está aos arredores assediando sua filha Desdêmona.
Usa da seguinte fala:
“Um bode preto e velho está cobrindo sua branca ovelhinha”.
Iago, com sua inveja, tenta desesperadamente insultar Otelo, e fazer, assim, com que Brabâncio desista de dar o cargo aspirado por Iago a Otelo.
Em outro momento, Iago está com Otelo, fingindo amizade e servidão que não existem, tentando ludibriar Otelo ao lhe dizer o que está acontecendo e demonstrando não ter qualquer participação no fato ocorrido.
Nessa hora, Cássio, o tenente, toma a dianteira e entra na história fazendo a intermediação entre Otelo e Brabâncio.
Encontram‑se todos e Otelo é intimado a falar sobre esse suposto romance.
Otelo assume o amor e o casamento, e Desdêmona igualmente o faz, para desgosto do pai que, no fim das contas, aceita o casamento.
Ao partir para a guerra em um determinado momento da história, Otelo é alfinetado pela primeira vez pela ameaça da traição.
Esta é dirigida a Otelo por seu sogro Brabâncio, que diz referindo‑se a Desdêmona: “Mantém‑na sob tuas vistas, Mouro, se é que tens olhos para enxergar. Ela enganou o próprio pai, e pode vir a fazer o mesmo contigo”.
Otelo responde a provocação, afirmando: “Desdêmona é fiel, e nisso aposto minha vida”.
Iago não perde tempo e já começa a tramar para separar Desdêmona e Otelo.
Seu ódio por Otelo o faz pensar em tantas artimanhas quanto é capaz sua mente cruel e invejosa.
Nesse momento, ele usa Cássio, insinuando um caso com Desdêmona.
Uma trama muito bem articulada, mas que, novamente, não logra êxito.
Iago mesmo, na sua mais pura falsidade, adverte Otelo: “Acautele‑se, meu senhor, contra o ciúme. É ele o monstro de olhos verdes que zomba da carne com que se alimenta…”.
Otelo, a princípio, não se deixa contaminar pelas insinuações de Iago. É forte em seu posicionamento afirmando o caráter da esposa e afastando qualquer dúvida. Iago, porém, não se dá por satisfeito, continua a engendrar suas calúnias. E, por mais que Otelo tenha tentado não acreditar, acaba caindo em sua armadilha de tão convincente que era o discurso de Iago.
A história termina com Otelo estrangulando Desdêmona, com acusações de adultério.
E depois de descoberta a verdadeira história, suicida‑se, dando fim a um amor verdadeiro, mas cheio de acusações perversas e mentirosas de infidelidade.” (Retirado do livro: Ciúme Patológico, Passando dos Limites. Entenda suas Causas, Consequências e Tratamentos).
Essa peça, apesar de antiga, nunca vai ficar desatualizada.
Porque isso é exatamente o que acontece com os ciumentos. Um ciúme exagerado e sem fundamento.
E em alguns casos, é comum ainda aparecer um “Iago” fazendo acusações, insinuações e plantando desconfiança.
O que você tem de Otelo?
Você é uma pessoa que tem um ciúme fora de controle de seu parceiro?
Tem crises homéricas de ciúme no meio da rua?
Vive checando o celular? Whatsapp? Facebook?
Cheirando a blusa? Examinando o bolso da calça atrás de qualquer indício de infidelidade?
Já colocou detetive atrás de seu marido?
Já instalou a caneta espiã na maleta dele?
Fica fazendo perguntas intermináveis sobre relacionamentos anteriores?
Faz acusações como se fossem provas?
Ou seja, você quer controlar as amizades, as saídas, a vida e até a respiração de seu parceiro?
Sente taquicardia com a possibilidade de estar sendo traída? Falta de ar? Sudorese? Irritabilidade constante?
Se respondeu “sim” para a maioria das perguntas (ou até mesmo todas), saiba que você é uma forte candidata a sofrer de Ciúme Patológico.
Esse problema é comum, apesar de pouco falado. Isso porque é um assunto meio tabu, vergonhoso, mal visto.
Geralmente quem é ciumento é rotulado de mente fraca e pobre coitado.
Mas não é bem assim. Quem é ciumento patológico precisa saber que tem uma doença e, como as outras, tem tratamento específico.
E em alguns casos será necessário até uma visita ao psiquiatra.
Síndrome de Otelo tem tratamento?
Sim. Síndrome de Otelo tem tratamento. Não é em todo caso que A Arte Imita a Vida.
Você pode se beneficiar dos tratamentos antes que passe por sua cabeça fazer algo de mal contra seu parceiro. Ou até contra você mesma.
No entanto, saiba, antes de você procurar tratamento, que sentir um certo nível de ciúme é normal, faz parte da condição humana.
Aquele ciúme que não lhe causa maiores transtornos; nem é baseado em dúvida infundada; que passa logo sem causar constrangimentos; que não tira sua paz e seu tempo, esses casos e mais outros citados no livro Ciúme Patológico, Passando dos Limites, são normais.
Normais e até esperados por parte de quem ama.
Dá um saborzinho ao romance, uma pitadinha de sal.
Mas passando disso, já se torna preocupante e precisa ser investigado.
Se você vir que seu ciúme está te causando prejuízo físico e mental, é hora de agir.
Só para você ter uma ideia, no livro de referência sobre os transtornos mentais, o ciúme exagerado aparece catalogado no Transtorno Delirante, no Transtorno Obsessivo Compulsivo e no Transtorno da Personalidade Paranóide.
Isso sem falar no Transtorno da Personalidade Borderline, que tem um ciúme acentuado, pelo medo do abandono real ou imaginado.
Muito nome feio, né?
Mas calma. Muita calma nessa hora.
Não quer dizer que você tenha um desses transtornos.
O que acontece é que o ciúme doentio é UM (dentre vários outros) dos aspectos dessas doenças.
Não quer dizer que você as tenha.
Para se chegar a esse diagnóstico será necessário procurar ajuda de um psiquiatra.
Tendo ou não um desses transtornos, uma coisa é certa: você é ciumenta de carteirinha e precisa de cuidados.
Você não pode deixar que esse sentimento te acompanhe pelo resto da vida, trazendo toda sorte de sentimentos inapropriados e te tirando o prazer de viver.
Mas antes você precisa ter ciência de que o ciúme não veio do nada.
Sim, o ciúme tem causa. E uma causa bem específica. Ou até várias.
E você tem que começar por esse caminho. Primeiro tem que descobrir de onde ele veio.
De Onde Vem o Ciúme?
O ciúme é um sentimento que te acompanha desde criancinha.
De acordo com Freud, dos 3 aos 6 anos, em média, a criança tem ciúme da figura do pai do sexo oposto (Complexo de Édipo). Ou seja, o menininho vai sentir um “amor” maior pela mãe e uma “inveja do pai”, enquanto a menininha sente um “amor” pelo pai e uma “inveja” da mãe.
Também temos o ciúme de seu irmãozinho mais novo; ciúme da “tia” da escola; ciúme dos brinquedos, e por aí vai.
Mas estamos falando de outro tipo de ciúme, ainda: o ciúme doentio vivido na fase adulta.
Esse ciúme não apareceu do nada. Tem uma causa fundante, um fator, um gatilho, um motivo, enfim…
Se você teve um relacionamento com um parceiro desajustado emocionalmente, que não dá valor ao termo monogamia, você pode estar sendo prejudicada no seu envolvimento afetivo sem se dar conta que, nesse caso, quem precisa de ajuda é o parceiro.
Deste caso não há o que se falar, porque o ciúme não é infundado e o problema não está em você.
Pode até ser que o problema esteja em você sim, se, por exemplo, você tem um histórico de procurar parceiros com esse perfil.
Aí você tem que investigar de onde vem esse seu “dedo podre”.
Saiba que ter “dedo podre” também tem uma causa e tem que ser buscada lááá no seu passado. (Tipo: Compulsão à Repetição. Lá vem Freud de novo).
Como foi a sua infância? Recebeu carinho, atenção e cuidados básicos necessários na primeira infância, em quantidade satisfatória?
Talvez esse ciúme seja causado pela Carência Afetiva Infantil.
Você cresceu em ambiente familiar hostil? Talvez um pai grosseiro e uma mãe omissa… Isso pode causar uma insegurança na vida adulta que leva a um ciúme exagerado.
Você teve pais que te cobravam em demasia?
Ou pais que não reconheciam suas vitórias? Talvez você tenha crescido com autoestima baixa e pouca confiança em si mesma.
Sofreu bullying na escola?
São várias as causas e isso é bem subjetivo. Você tem que descobrir a sua para poder, a partir de então, trabalhar para que ela deixe de prejudicar sua vida.
Algumas pessoas acham difícil fazer essa investigação. E mais difícil ainda perdoar o que tem que ser perdoado, ser resiliente e superar.
Nesses casos uma ajuda profissional seria uma boa pedida.
O psicanalista é a pessoa mais indicada para te ajudar a rememorar o passado em busca de respostas.
As causas do ciúme patológico são várias e você vai descobrir a sua. Basta encarar, não ter medo e colaborar.
As dificuldades existem mas não são intransponíveis.
Cuide para ser feliz a maior parte de sua vida.
Isso é uma escolha sua.
Siga-me no Instagran: @giorgiamatos, @psi_em_topicos
Pq o texto está no feminino? Homem está isento de ser doente? Procurei a materia pois sou uma vítima de um homem com essa patologia
Não, Carol. Homens e mulheres podem ser ciumentos, mas o artigo é mais lido por mulheres. Obrigada pelo comentário, vou tornar os outros textos mais impessoais.