Abandono Afetivo: Como Lidar Com A Carência Vivida Na Infância

Autora

Giorgia Matos

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Você se considera uma pessoa carente? Que não teve afeto suficiente na infância? Que foi abandonada, rejeitada ou não recebeu a atenção que merecia?

Os psicólogos, psicanalistas, e, inclusive o judiciário já se manifestaram na intenção de mudar essa triste realidade. No âmbito jurídico, já existe até uma grande discussão acadêmica sobre a responsabilidade civil por abandono afetivo.

Essa carência afetiva vivida por crianças e adolescentes é chamada síndrome do abandono e traz consequências preocupantes para a vida adulta. Por falta de amor e carinho muitas pessoas estão recorrendo a tratamento psicológico.

A carência emocional ou abandono afetivo hoje está sendo debatida até nas escolas, em reunião com os pais, tamanha é a preocupação com o que as crianças possam desenvolver como consequência da carência.

Os pais devem ser conscientizados da necessidade de atenção que todos precisam ter para uma vida equilibrada psiquicamente.

É de suma importância que se saiba o que o abandono afetivo está causando em nossas crianças e como reverter essa situação.

O que é ser carente?

A carência em si não é um problema. Ela faz parte da vida de todo ser humano. É normal como a raiva, a tristeza, o ciúme e outros sentimentos com os quais já nascemos e vamos conviver até o fim de nossos dias, ou seja, temos a propensão a senti-los.

O problema é quando o sentimento de abandono afetivo é exagerado e manifestado com grande intensidade.

Ele é sentido tanto na vida infantil como na adulta. Mas geralmente a carência do adulto está relacionada ao que ele presenciou e vivenciou na infância.

Se ele teve uma criação negligente, de rejeição e de exclusão, sem o aporte de afeto necessário, sofrerá toda a dor da falta de carinho e atenção que essas atitudes trazem.

Diferença entre carência e dependência afetiva

Carência é a falta ou privação de algo, como a falta de afeto, por exemplo.

A dependência afetiva é o estado de ser dependente, a necessidade de algo, como proteção ou amor.

Ou seja, carência e dependência são dois termos usados para denotar a mesma coisa: a falta de algo importante.

A carência afetiva é a privação que eu tenho, ou tive, de um amor, carinho, dedicação, cuidados básicos de higiene, compreensão, ou seja, tudo o que os pais ou cuidadores deveriam ter proporcionado ao carente e não o fizeram.

A carência tem um significado ainda mais marcante naquela criança que é separada dos pais por longo tempo, ou até definitivamente (no caso de falecimento, por exemplo).

Pensando dessa forma, a dependência afetiva pode ser uma consequência do sentimento de exclusão vivido por aquela criança, pois não raro o adulto que foi abandonado, excluído, sente extrema dependência do seu parceiro, apresentando, inclusive, um ciúme patológico fora de controle.

Abandono afetivo: conceito

O abandono afetivo é quando a mãe, ou quem a substitua não dá ao filho tudo o que uma criança necessita para crescer com saúde física e mental. Lembrando que o adoecimento mental causa o adoecimento físico também.

Uma mãe ou um pai que não supre seu filho com amor, dedicação, carinho, cuidados, palavras de afeto, toque físico, não poderá proporcionar a ele um futuro de qualidade, pois essa criança provavelmente crescerá com baixa autoestima, tímida e temperamental, podendo, inclusive, apresentar ao longo de sua vida episódios depressivos.

A família é a estrutura básica de qualquer ser humano. É a base sólida. É o que nos pautamos para encarar e confrontar a realidade, que nem sempre se apresenta para nós de uma maneira amigável. Uma família que cresce bem alicerçada é como um prédio em construção. Se ele for bem planejado, conduzido, direcionado e moldado, certamente terá menos propensão a desabar.

A falta dos cuidados básicos compromete de uma forma inimaginável o seu normal desenvolvimento. O amor e o carinho recebidos são um dos pilares essenciais no fortalecimento da autoestima.

O abandono afetivo infantil é uma violência que vai deixar marcas irreparáveis na vida das crianças. Ele vai machucando aos poucos, no dia-a-dia vendo o comportamento dos pais, até a total apatia. O abandono é morte em vida. Deixa a criança letárgica e com baixa produtividade na escola.

Portanto, o que é o abandono afetivo? É o sentimento mais miserável que uma criança pode sentir, é a dor mais triste, é o padecer.

Nível de carência

É muito complicado saber qual o nível de carência que uma pessoa apresenta. Se ela recebeu afeto, se transcorreu tudo tranquilamente em sua infância, se ela teve uma perda, se passou por algum problema afetivo em relação a seus pais ou cuidadores.

Tudo isso é válido e tem que ser investigado para se saber as consequências que poderão advir dali.

Geralmente o terapeuta ou analista é a pessoa indicada para ajudar a vítima do abandono afetivo a descobrir o que houve em seu passado e o nível de sua carência.

Mais importante do que se descobrir em que patamar de carência esta pessoa encontra-se é saber como fazer para ajudar. E certamente ela precisará de ajuda.

Sintomas da dependência emocional

Observando-se um adulto carente, ciumento patológico, inseguro, com pouca confiança em si mesmo, com baixa autoestima, entre outros comportamentos prejudiciais, imediatamente desconfia-se do que essa pessoa vivenciou em sua infância. Que tipo de criação aquela pessoa deve ter recebido para se tornar um adulto tão retraído e, às vezes, com uma agressividade além do normal.

A falta dos cuidados básicos, principalmente de afeto na infância, pode causar às crianças as mais diversas consequências. E essas consequências são os sintomas da dependência emocional, da ausência de amor.

Muitas delas crescem retraídas, isoladas, evasivas, com distúrbio de concentração, sentimento de inferioridade e mania de perseguição. Têm dificuldade para sentir afeto e emoções, terminar relacionamentos na fase adulta e ao lidarem com o luto ficam psiquicamente mais abaladas que os demais.

Podem apresentar ao longo de sua vida síndrome do pânico, depressão, ansiedade generalizada, ciúme patológico, anorexia, bulimia e diversas doenças psicossomáticas. Todos esses são considerados sintomas em potencial da dependência emocional, da síndrome do abandono vivida na infância.

Quem é mais carente: o homem ou a mulher?

Homens e mulheres são carentes na mesma intensidade.

O que vai caracterizar se uma mulher é mais carente que o homem ou se o homem é mais carente que a mulher será o tipo de criação que eles tiveram: se regada a amor, carinho e companheirismo, com acompanhamento de pais presentes, ou não.

São os cuidados na demonstração da afetividade que vão fazer toda a diferença.

A dependência afetiva, ou carência afetiva, vai ser desencadeada tanto no homem como na mulher da mesma forma, sem diferença.

O que acontece é que, no geral, a mulher tem mais facilidade para demonstrar seus sentimentos, então logo se percebe se ela não está bem. O homem, por questões culturais, tem mais dificuldade em dar vazão a seus sentimentos.

Falta de carinho e atenção no casamento

A falta de carinho e atenção no casamento pode ser ocasionada por diversas situações. O mais comum é que a esposa carente relate essa falta ao marido. Então os dois tem que sentar para tentar descobrir o que de fato está acontecendo. E, se não conseguirem juntos, é importante procurar ajuda profissional.

Um dos motivos de alguém não demonstrar carinho a outra pessoa é a falta de afeto que ele mesmo não sentiu na infância, ou seja, não foi oferecido a ele esse tipo de sentimento e, assim, ele não sabe como transmitir aos demais.

Mas esse não é o único motivo. Ele está entre os mais comuns, mas existem diversas situações que provocam um distanciamento afetivo, como, por exemplo: problemas no trabalho, financeiros e de saúde.

O mais importante é saber que a pessoa carente tem grandes dificuldades nos relacionamentos amorosos. Isso é um fato.

Como acabar com a carência?

Carencia afetiva: causas e tratamento

Como acabar com a carência é uma questão bastante subjetiva. Geralmente o carente de amor já está cheio de sequelas. Deixar de ser carente não é algo que acontece da noite para o dia, já que talvez você tenha passado a infância toda abandonada afetivamente e quem sabe até a adolescência. A ausência de afeto deixa consequências inimagináveis e, às vezes, irreparáveis na pessoa.

A carência pode ser evitada ainda na infância, se os pais tomarem consciência ainda cedo do que está acontecendo, do que estão transmitindo aos filhos e até do que não está sendo transmitido. Nesse ponto, algo ainda pode ser mudado em relação ao sentimento de carência: mudando as atitudes dos pais (ou substitutos).

Talvez a pergunta mais fácil de responder seria: “como lidar com a carência?” Esta, sim, pode ser esclarecida com mais tranquilidade.

Uma das maneiras de lidar com a carência seria, primeiramente, tomar consciência do que aconteceu em sua infância e adolescência e os motivos que ocasionaram tal  abandono.

Já tentou uma conversa sincera com seus pais? Uma aproximação? Ou entender os motivos do abandono e até tentar perdoar?

Se a rejeição foi muito marcante e você não está conseguindo se restabelecer sozinho, uma alternativa viável seria procurar ajuda profissional qualificada.

Um psicólogo ou psicanalista são as pessoas ideais para conduzir essa questão. Talvez até um psiquiatra, se você estiver com a depressão batendo à sua porta.

Não tenha receio de procurar um profissional que o ajude.

A carência afetiva e a psicanálise

Geralmente as vítimas do abandono infantil passam por várias carências ao longo de sua vida. Elas aprenderam de perto o que é abandono e vão colecionando todo tipo de carência imaginável.

E sabe por que isso?

Chama-se Compulsão à Repetição. De tanto ver uma situação de abandono em sua casa, a vítima se acostuma com esse sentimento. Para ela é normal, apesar de doloroso.

No futuro ela vai procurar um parceiro com as mesmas características dos pais que viram em casa. Com comportamentos de abandono, rejeição e humilhação. E o pior é que ela se sente familiarizada com isso, e pensa que é assim que tem que ser. Inclusive generaliza: acha que é igual em todas as famílias.

Ver uma pessoa sofrendo é muito doloroso para os amigos e parentes. É por isso que, em muitos casos, o carente afetivo chega à clínica de psicanálise a pedido de algum amigo ou familiar.

O psicanalista investigará para descobrir de onde vêm seus sintomas, através de uma técnica chamada associação livre de ideias, fazendo com que o paciente fale o que passou e a partir daí seja trabalhado uma ressignificação dos seus sentimentos.

O analista ficará atento à sua atuação, ao seu modo de falar e se expressar, além de seu discurso. Em seguida, mostrará ao paciente o que está por trás de tal comportamento, pois ele repete em atos o que não consegue verbalizar.

O analista não irá interromper e não dará sua opinião. Apenas escutará, interpretará e conduzirá o paciente para que este se apodere de seus verdadeiros sentimentos.

Tudo isso demanda um tempo necessário para a fiel análise do processo, de forma que não haja erros ou mal-entendidos.

Esse processo nem sempre é rápido. Às vezes, demanda um tempo precioso para que tudo se torne claro e não cause mais dor. O importante é procurar ajuda e ter uma vida de qualidade.

Afeto na psicologia

O psicólogo é um profissional que pode atuar em várias frentes, pois no curso de psicologia existem várias abordagens: behaviorismo, humanista e orientação analítica, por exemplo.

E o psicólogo escolherá a que melhor se aplique à problemática que o paciente traz. Ele pode, ainda, utilizar-se de mais de uma abordagem, contanto que o paciente se sinta confortável.

Como não ser carente” é, às vezes, a primeira questão que a pessoa que apresenta dependência afetiva traz. Ela chega à clínica sedenta de carinho e atenção e isso já é um sinal de alerta para o psicólogo.

Às vezes o paciente chega na clínica com sintomas físicos, dificuldades em socializar, tímido, desconfiado, com crise de ansiedade exagerada, agressividade, frustrações, medo infundado de diversas situações, instabilidade de humor ou humor depressivo e depois de toda a investigação o profissional descobre que tudo isso é carência.

O psicólogo experiente percebe o indício de carência afetiva primeiramente pela instabilidade de humor do paciente, que demonstra reatividade significativa: uma hora está bem, outra não tão bem assim e já em alguns outros momentos pode apresentar, inclusive, um humor depressivo.

Outro indício é a falta de confiança nas pessoas. E o sintoma que se destaca é a deficiência na socialização. Quem não teve afeto, quem não teve contato, dificilmente vai saber transmitir esses sentimentos aos demais.

O psicólogo vai levar o paciente a descobrir a si mesmo. Por mais que esteja claro para o terapeuta, a ideia é que a percepção se origine do próprio paciente.

A vítima do abandono tem que chegar às suas próprias conclusões, com intervenções, claro. E, a partir daí, observar e descobrir a relação do que aconteceu lá no passado com o que está acontecendo hoje, porque o que ele está sofrendo hoje, aqui no presente, pode ser modificado. E isso só vai funcionar a partir do momento em que ele tenha essa percepção.

Depois de tudo investigado e descoberto, é hora de trabalhar em cima da percepção que ele teve de suas sensações e modificar sua forma de sentir, pensar e agir, para que o carente afetivo não deixe mais essas lembranças fazerem parte do seu dia-a-dia.

É muito importante que as pessoas falem, expressem suas emoções, coloquem para o exterior o que está prejudicando seu interior.

O corpo só é saudável se a mente também o for. Eles estão indissociáveis e caminharão  sempre juntos.

Tome uma decisão em sua vida procure ser feliz.

A felicidade depende de uma atitude que você toma hoje.

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por

Giorgia Matos

23/04/2018

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  1. Muito top essas informações. Vou falar sobre um tema bastante preocupante e que tem se tornado cada vez mais comum entre a nossa polpulação brasileira e no mundo em geral, a DEPRESSÃO. Na minha opinião, os principais vilões da depressão hoje são as redes sociais, as mídias sociais. A tecnologia tem avançado cada vez mais e deixando um vazio enorme nas pessoas. Elas buscam se preencher de algo no qual as deixam ainda mais vazias. Não há mais diálogo e uma boa relação entre as pessoas, em casa na família é a mesma coisa, ninnguém mais pára pra bater aquele papo legal, todos vão para o telefone e passam a maior parte do dia nele. Acho que temos que nos educar perante isso, ou então estaremos caminhando para um abismo ainda maior, que só tende a crescer…essa é a minha opinião…Obrigado

  2. meu pai é sociopata e eu desconfio demais que tenha a ver com a negligência da mãe dele, há relatos de falta de higiene básica, ela parecia depressiva e na casa dele nunca existiu festa de nada, nunca se soube aniversário de ninguém e ninguém estava lá para o outro.
    Só que meu pai, com 90 anos hoje, jamais vai querer saber de ir a um psi-alguma coisa. Nada disso. Esse que é o problema.

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