Suicídio na adolescência – quais as causas e meios de prevenção

Autora

Giorgia Matos

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O que leva um adolescente a atentar contra a própria vida? O que ele pensa e o que pode ser feito para interromper tal ato? Qual a forma de prevenção ao suicídio?

Suicídio na adolescência não é um assunto agradável de ser comentado em uma roda de conversa, muito menos de ser analisado como algo concreto.

Ele ainda é tido como um assunto tabu, mas a verdade é que não se pode fechar os olhos para essa questão. Muitos pensam que o suicídio só acontece na casa do vizinho. Um equívoco, infelizmente.

Ele existe de fato, e os pais que tem filhos adolescentes devem se familiarizar com o assunto para não deixar que esse comportamento faça parte da sua realidade.

Mas há como se antecipar ao ato e prevenir para que nada disso aconteça em seu lar e é de suma importância se familiarizar com o assunto pois o índice de suicídio na adolescência no Brasil vem aumentando a cada ano e uma forma de abordagem sobre o tema é estudar as causas e os meios de prevenção.

Fatores predisponentes

Causas do suicídio na adolescência

Uma questão importante para ser esclarecida e que faz parte da dúvida de muita gente é: Quais as causas do suicídio na adolescência?

A adolescência é uma fase de constantes mudanças tanto hormonais quanto psicológicas para aquele ser que nem é mais criança e ainda não é adulto.

São comportamentos e pensamentos que passam por uma fase de transição. Uma transição normal e que faz parte da estrutura fisiológica.

Mas o novo corpo de adulto — daquele que até o presente momento era uma criança — começa a mudar, causando muita estranheza, que nem sempre é bem aceita.

Ele não é mais criança, não quer mais ser tratado como tal, ao mesmo tempo em que não quer assumir responsabilidade de adulto por não se achar com capacidade para isso ainda.

No meio de tantas mudanças ocasionadas pela puberdade, os conflitos mentais internos gritam, pedindo orientação. É um turbilhão de organização e desorganização psíquica em andamento, causando grandes alterações emocionais.

O suicídio na adolescência, na verdade, não passa de uma forma de comunicação.

Algo está errado que nem mesmo o adolescente sabe do que se trata e ele não consegue dar conta de tanta informação.

Então aquela comunicação que deveria ser verbal — e que o adolescente não acha maneira de externar—, ele passa ao ato, ou seja, atuando o que deveria ser verbalizado.

O suicídio é tido atualmente como um assunto de bastante interesse, mesmo que de forma incipiente, fazendo parte do cotidiano de educadores e profissionais em saúde mental, dada a quantidade de ocorrências registradas a cada dia.

O índice de suicídio no Brasil nessa faixa etária chega a ser alarmante, o que, com certeza, demanda uma atenção especial.

A depressão e o suicídio entre jovens adolescentes está em franca ascensão, o que causa muita preocupação nesse momento que chamamos de pós-moderno, líquido ou contemporâneo, com toda a quantidade de informação disponível para os jovens que pesquisam na internet formas de suicídio e como cometer suicídio sem dor, ou seja, procuram praticamente um manual do suicídio, o que não era visto em épocas anteriores.

Conflitos familiares

família desequilibrada pode causar suicídio de adolescentes

Uma problemática bastante grave e que passa, às vezes, despercebido, são os conflitos familiares. São eles os grandes vilões, as grandes causas de suicídio na adolescência manifestadas frequentemente.

Pais negligentes, ausentes, hostis, dominadores, agressivos são como um atrativo para o crescimento de crianças desestruturadas.

Pais que brigam constantemente, inclusive envolvendo a criança em suas confusões, pais violentos, alcoólatras e ciumentos estão, mesmo que inconscientemente, causando transtornos futuros em quem presencia aquela cena.

Famílias desajustadas, que não sabem o significado das palavras amor, carinho, afeto e companheirismo estão fadadas a comprometer a educação dos filhos causando uma série de conflitos mentais.

Costuma-se jogar a culpa em algum acontecimento que a criança esteja presenciando no momento, sem perceber que fatos como o caso da baleia azul, filmes sobre suicídio, ou até mesmo jogos de suicídio que estejam sendo veiculados no momento são só um gatilho para um desajuste que aquela família já está inserida e que é a grande causadora dos conflitos internos.

Situações desencadeantes

situações que podem levar ao suicídio do adolescente

Os adolescentes e até mesmo os adultos, de uma forma geral, pensam sobre a morte em algum momento de suas vidas.

Seja por ela ser um enigma, por ser repleta de mistérios que estimulam a curiosidade, ou porque são constantemente motivo de debates, principalmente nas igrejas.

Muitos adolescentes pensam na morte como um modo de viver para a eternidade, sem dor e sem problemas.

Outras pensam que terão uma vida mais feliz e plena em satisfação. Muitos fantasiam, ainda, na esperança de retornar em uma família mais harmônica, por exemplo.

Ao pensar em suicídio, esses jovens também pensam na morte em si, não somente no fator motivador de tal ato.

Para a maioria deles a morte não assusta, ela é uma esperança de dar fim a alguma dor.

Muitos comportamentos inapropriados já denunciam que alguma coisa não vai bem. Pais presentes conseguem visualizar algumas dessas atitudes nas entrelinhas. E isso é fundamental para uma tomada de decisão a tempo.

Alguns pais só vão perceber algo de errado quando o filho já está em um estado avançado de sofrimento ou até mesmo quando já é tarde demais.

Adolescentes estão em constante mutação, da fase infantil para a fase adulta, e com isso mudam também a forma de pensar e agir.

Nesse momento eles têm uma tendência a procurar grupos, para se sentir pertencentes a algo, já que não conseguem se encontrar em sua própria subjetividade.

É nesse momento que vimos meninos dirigindo em alta velocidade, fumando, bebendo e usando drogas.

Costumam se envolver em brigas com maior facilidade e demonstrar pouca paciência com pais e professores.

Nesse momento também a sexualidade está aflorando e a insegurança e dúvidas fazem parte do cotidiano.

Muitos desses comportamentos inadequados são, na verdade, tidos como normais para a idade, mas tem que ser acompanhados e orientados pelos pais, pois a passagem da normalidade para algo sério, com o risco de vida, é tênue.

O que costuma acontecer é que os pais, justamente nesse momento de transição, tendem a achar que o filho já cresceu e já pode tomar conta de sua vida sozinho. Então geralmente se afastam e “dão espaço”, que as vezes é até solicitado pelo próprio adolescente.

Nesse momento também os afagos e carinhos diminuem ou cessam, causando um sentimento de rejeição e desamparo.

Quando a preocupação começa

Em se tratando de comportamento suicida, há indícios — às vezes bem nítidos — de que algo não vai bem e que precisa ser investigado e acompanhado de perto.

Adolescentes que se automutilam, por exemplo, já demonstram ter conteúdo digno de preocupação. Humor deprimido, notas baixas na escola, falta de motivação e conduta agressiva podem ser um pedido de socorro.

Bebidas, cigarros, drogas, comportamento antissocial também não devem ser descartados como algo digno de averiguação.

Por outro lado, se o adolescente se apresentar retraído demais, calado, sem amizades, sem se alimentar direito, sem cuidados com a aparência e fugindo das atividades que costumavam dar prazer, o sinal de alerta deve ficar ligado.

É certo que o comportamento nessa faixa etária muda, tanto pela questão fisiológica quanto emocional. Mas para tudo há limite. Se a rotina mudou tanto a ponto de se fazer perceber alterações significativas em sua rotina e em seu humor, deve-se ficar atento.

Onde e como ocorre?

Uma questão bastante polêmica é o local onde o adolescente escolhe para cometer o ato. Os pais acham que o filho em casa está seguro de qualquer mal que possa acometer uma pessoa.

Mas os estudos demonstram que a maioria absoluta dos suicídios (ou tentativas) se dão em casa, durante o dia, em um momento em que os pais não estejam presentes.

Adolescentes do sexo feminino são mais propensas a fazer uso de medicamentos (é o que se tem constatado na prática), enquanto os do sexo masculino tentam ou cometem suicídio através de enforcamento ou manipulação com armas de fogo.

Até o adolescente pensar em suicídio, ele segue um ritual que inicia com uma raiva intensa, queixas, desilusões, até chegar a pensar em morte propriamente dita. É durante esse tempo que o comportamento muda e que pode ser perceptível por um adulto atento.

Vale lembrar que quando eles tentam o primeiro suicídio e não há um aporte por parte dos pais para aquele pedido de socorro, inclusive com acompanhamento psicológico, provavelmente tentarão de novo e dessa vez de um modo mais velado, para que os pais não percebam sua intenção.

Nem sempre é fácil para os pais perceberem que algo de errado está acontecendo a seu filho, apesar de, depois de ocorrido, eles se darem conta de que o filho já vinha dando sinais de estranhamento no dia-a-dia.

É muito difícil, porém, os pais assumirem que o comportamento do filho havia mudado — pois isso implicaria um sentimento de fracasso — ao mesmo tempo em que muitos pais assumem um sentimento de culpa que vai durar o resto de suas vidas.

A ajuda terapêutica

Terapia com psicanalista ou psicólogo — como previnir o suicídio na adolescência

Em diversas ocasiões já se pode perceber o grau de ajustamento ou desajustamento em um adolescente em crise.

Todos passarão por mudanças nessa fase mas nem todos conseguirão transpor essa etapa de uma forma equilibrada e sem danos.

Nessa hora é importante uma ajuda profissional como uma forma de trazer aquela pessoa em formação a entender tudo o que se passa em seu psicológico e como lidar com a situação que está vivendo.

Um adolescente com tendências suicidas tem algo a contar. Algo precisa se externado e a figura de um psicólogo ou psicanalista é essencial nessa jornada em que, às vezes, ele não conta com mais ninguém.

Podem ter ocorrido traumas infantis como abuso sexual, bullying, humilhações, desentendimento com os pais ou professores, ou seja, tudo é um gatilho para trazer à tona sentimentos hostis em uma fase que a confusão já se faz presente.

A carência afetiva infantil não pode ser descartada em nenhum momento. Crianças carentes se tornam adolescentes dependentes, desprotegidos, desamparados, com sensação de frustração e com um medo acentuado. São adolescentes inseguros em que qualquer sentimento de rejeição se intensifica.

O psicólogo ou psicanalista vai fazê-lo entender o que se passa nesse momento de transformação e o ajudar com o material que ele traz à análise.

Com certeza o adolescente tem um discurso latente e que precisa ser investigado e analisado para ser trabalhado juntamente com ele.

Pais presentes e atuantes na vida do filho são de fundamental importância para o adulto que ele se tornará. Amor, carinho, compreensão e dedicação são as palavras-chave durante toda a infância dessa criança — desse adulto em formação.

O mais importante é que os pais se conscientizem para o modo como devem criar seus filhos, para evitar atitudes prejudiciais futuras. O adolescente, quando está com problemas, pede ajuda — seja verbalmente ou atuando — e pais atentos conseguem ler seus filhos com a linguagem do afeto.

Um livro muito interessante para pais que desejam aprender a suprir as necessidades básicas de afeto para com seus filhos, como uma forma de se antecipar a algum desajustamento futuro  ou até como um meio de prevenção ao suicídio  na adolescência chama-se Carência Afetiva Infantil: a síndrome do abandono vivida por crianças e adolescentes e as consequências para a vida adulta.

Nele, além de se aprender como educar conscientemente uma criança, há relatos de jovens que sofreram o abandono infantil e como superaram o trauma.

O suicídio não deveria ser um assunto tabu.

É importante que essa temática seja trabalhada com pais e educadores para que se tornem aptos a perceber qualquer comportamento que fuja à normalidade e evitar que o ato seja consumado, de modo que a estatística que vemos hoje de tentativa de suicídio e de suicídio efetivo diminua ou seja extinta.

Campanhas de prevenção contra o suicídio na adolescência têm que ser divulgadas, assim como são divulgadas campanhas contra o fumo e sobre a importância de um pré-natal adequado. Artigos como: “Suicídio na adolescência – quais as causas e meios de prevenção” também são importantes para esclarecer questões que geralmente os pais desconhecem.

Tudo é questão de saúde — tanto física quanto mental — e os pais têm que tomar ciência de que o fato existe, é real e precisa de atenção.

Algo tem que ser feito para que se dê um fim a esse fato que causa tanta dor e comoção.

Essa fase passa. Que seja, então, da melhor forma possível.

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por

Giorgia Matos

05/06/2018

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